Postal de Goa (VIII)

Goa, 19 de Dezembro de 1961 - O General Vassalo e Silva é abraçado por goeses e conferencia com os generais indianos: estava consumada a queda da Índia Portuguesa
No dia 19 de Dezembro de 1961, pelas 19 horas e 30 minutos, o governador-geral do Estado da Índia, general Vassalo e Silva, assinou em Chicalim o termo da rendição portuguesa perante o general indiano K. P. Candeth.A “operação Vijay” terminara: as tropas indianas tinham dominado Goa em poucas horas, a resistência encontrada tinha sido meramente simbólica e, desta forma pouco digna, terminava um período de 451 anos de administração portuguesa.Em Damão e em Diu, pequenas parcelas que também integravam o Estado da Índia, a resistência portuguesa foi mais acentuada e mais consistente, mas o resultado final viria a ser o mesmo.

O julgamento da História ainda não está feito, porque o “caso de Goa” é demasiado complexo para permitir interpretações apressadas ou menos cuidadas.Do lado indiano, as informações oscilam entre a ideia de que se tratou “mais uma demonstração de força do que de uma operação militar” e a afirmação de que a acção militar desenvolvida foi o culminar de “uma luta intensa desenvolvida pelos goeses“, mas ambas as interpretações coincidem no desproporcionado destaque que lhes dão na sua história militar.Do lado português, a questão de Goa também é habitualmente tratada em termos militares, invocando-se a escassez de tropas e de meios materiais capazes para reagir à invasão, enquanto no aspecto político é acentuada a teimosia de Salazar na recusa de negociações e a sua obstinação para que tivesse havido resistência.Por falta de equipamentos e material militar, por falta de motivação política ou simplesmente porque quiseram evitar a destruição de Goa, o facto é que a guarnição militar portuguesa não resistiu ao menos 8 dias, como Salazar desejava, para permitir a condenação internacional da Índia e o recuo das suas tropas.No entanto, é reconhecido que o dispositivo naval que se encontrava no Estado da Índia – aviso “Afonso de Albuquerque” e lancha de fiscalização “Sirius” (em Goa), lancha de fiscalização “Antares” (em Damão) e lancha de fiscalização “Vega” (em Diu), embora com reacções bem diversas, teve um comportamento de grande dignidade e na linha das tradições seculares da Marinha Portuguesa.
O Pavilhão situado em frente do Quartel Geral da Polícia de Goa (antigo Quartel de Infantaria), que foi inaugurado em 17 de Fevereiro de 1843. No pavilhão foi então colocada uma estátua em pedra de Afonso de Albuquerque que pertencia ao frontispício da Igreja da Serra de Velha Goa (construída em 1513 e demolida em 1811), juntamente com as decorações laterais e as 4 colunas de granito do pórtico da igreja.
O Memorial "to the martyrs of the Freedom Struggle against Portuguese Colonial Rule in India"
Em Goa, os acontecimentos de 1961 e a sua análise ainda constituem um assunto muito polémico, sobre o qual ainda se continuam a movimentar muitas paixões, habitualmente centradas na questão de saber se se tratou de uma invasão ou de uma libertação.A palavra libertação entrou no discurso oficial indiano e é justificada pela simples razão de que a acção das Forças Armadas Indianas acabou com a presença da soberania portuguesa, mas muitas pessoas preferem a palavra invasão.Tal como sucedera na Índia Inglesa, também em Goa se haviam formado movimentos e correntes de opinião sustentando uma negociação que acabasse com o domínio colonial e que concedesse uma larga autonomia ao Estado da Índia, mas a ditadura salazarista jamais os reconhecera.A Índia tornara-se independente em 1947 e Salazar permanecia indiferente aos ventos da História e às aspirações autonómicas goesas. Porém, o domínio português em Goa que era representado sobretudo por um Governador nomeado pelo Governo de Lisboa e pela presença mais ou menos simbólica de uma força militar, era exercido de facto pelos próprios goeses, que ocupavam a maioria dos postos da administração, o que hoje parece acontecer em muito menor grau, devido aos quadros que vieram de outras regiões da Índia.

48 anos depois dos acontecimentos de 1961 o nome de Portugal não é indiferente em Goa e, em nenhum dos territórios que do Minho a Timor constituíam o império e hoje são países independentes, subsistem simultaneamente tão fortes sentimentos de amor e desamor por Portugal, nem tanta polémica em torno de um passado com marca portuguesa.