O poder das palavras
Igrejas atacadas na Malásia por uso da palavra Alá
Na Malásia os Cristão utilizam a palavra "Alá"para designar Deus, tal como acontece noutros países de maioria Muçulmana como o Egipto, o Líbano e a Indonésia. O uso desta palavra tinha sido proibido há três anos, mas o Supremo Tribunal deu razão a um recurso que pretendia continuar a usar essa palavra. Porque os muçulmanos consideram que a palavra Alá é "só para eles" alguns grupos atacaram quatro igrejas cristãs em Kuala Lampur destruindo uma com uma bomba artesanal.
Consideram os muçulmanos que ao utilizarem a palavra "Alá" o que os cristãos pretendem é converter muçulmanos.
Esta notícia pode relacionar-se de algum modo com a polémica que se tem travado em torno do designado "casamento” para os homossexuais e lésbicas. Na realidade, para além de todas as questões relacionadas com a orientação sexual, liberdades, direitos civis e humanos, aquilo que possivelmente mais baralhará as pessoas é o uso da palavra casamento.
Queiramos ou não, a nossa matriz civilizacional e cultural reserva a palavra casamento para uma relação que, podendo ser afectiva e sexual, tem sobretudo a ver com a organização e evolução das sociedades humanas. Como muito bem o demonstra Denis de Rougemont, em "O Amor e o Ocidente" amor, paixão e sexo na nossa Idade Média não tinham obrigatoriamente nada a ver com o casamento. O casamento era um mero contrato social destinado a assegurar a continuidade da propriedade (incluindo eu nesta propriedade os genes embora nessa época esse conceito não fosse conhecido, mas o nome de família estando relacionado com a "gen" o comporte em termos semânticos)
Considero que esta polémica é no fundamental uma manifestação folclórica de alguns intelectuais, artistas, e políticos, muito “in”, mas sem qualquer relação com o povo e sobretudo, com a orientação sexual de muitos e muitos homossexuais e lésbicas que por esse país sofrem para encontra a sua realização afectiva e sexual. A maior parte dessas pessoas vai sofrer na carne ainda maior descriminação e violência psicológica ao contrário dos intelectuais, políticos e artistas “”in” que tirarão os benefícios e continuarão a fortalecer o seu lobby de poder.
Pessoalmente, acho que os homossexuais e lésbicas são seres humanos vivendo em sociedade e por isso têm o direito à felicidade e cidadania. Devem poder celebrar entre si o contrato de vida em comum que quiserem e a lei deve contemplar essa possibilidade, mas isso não quer dizer que seja um casamento nos termos históricos e culturais consagrados nas nossas sociedades.
Finalmente, tal como os muçulmanos na Malásia temem que o nome de Alá seja utilizado para fins de conversão, não será que estaremos em presença de utilização da palavra "casamento" para os que não são ou não se sentem homossexuais e lésbicas se convertam?