Encontro Nacional de Combatentes 2010
Presidiu às cerimónias o Alm. Vidal Abreu.
Usaram da palavra, para além do Presidente, o "OCeano" Pires Neves, por ele convidado para ler um texto alusivo ao combate da lancha VEGA, onde como é sabido morreu em combate o seu comandante Ten. Oliveira e Carmo, e a sua viúva Srª D. Maria do Carmo Oliveira e Carmo.
Reproduzo o texto lido pelo Pires Neves:
O ÚLTIMO COMBATE DA “VEGA”
A lancha Vega, comandada pelo Segundo-Tenente Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo, tinha oito homens de guarnição, 17 metros de comprimento, deslocava 18 toneladas e estava armada com uma simples metralhadora de 20 mm.
O radar, posicionado na escala das vinte e quatro milhas, revelou um grande navio navegando em ocultação de luzes, a uma distância de cerca de doze milhas da costa. Oliveira e Carmo reduziu a velocidade e a Vega aproximou-se da lancha Folque também ela em missão de soberania nas águas de Diu.
O navio desconhecido – provavelmente hostil - continuava a sua rota, estando agora apenas a milha e meia de distância da Vega, que por ordem do comandante navegava na sua direcção.
Entretanto a Vega abordara a Folque e a sua guarnição embarcara no navio de Oliveira e Carmo, sendo depois a Folque abandonada e inutilizada.
O navio inimigo - identificado como um cruzador – abriu então fogo de metralhadora pesada, o que levou a Vega a rumar em direcção a Diu e a fundear junto da Fortaleza, onde desembarcou a guarnição da Folque e mais dois elementos da Vega, estes com missões específicas.
Às seis e quinze da manhã Oliveira e Carmo suspendeu ferro e dirigiu-se novamente ao navio intruso, agora a duas milhas de distância; era realmente um cruzador com a bandeira de combate já bem visível no mastro e a bandeira da União Indiana içada a ré.
O choque estava por pouco. O Comandante ordenou que se voltasse ao fundeadouro inicial e fardou-se de branco na pequena câmara, preparando-se para, segundo ele, lutar e morrer com mais honra, conforme as tradições da Marinha de Guerra.
Eram sete horas. Jactos inimigos bombardeavam a cidade e a fortaleza, num rádio portátil ouvia-se o programa Alvorada Musical. Mas logo a seguir a Emissora de Goa calou-se.
O Comandante leu à pequena guarnição uma mensagem do Estado-Maior da Armada, ordenando a resistência e o combate até ao limite.
Oliveira e Carmo fechou a leitura deste comunicado com estas suas palavras: “Rapazes sei que vocês vão cumprir, assim como eu… E que mais vós quereis! Acabarmos numa batalha aero-naval. Fizemos parte da defesa de Diu e da Pátria e vamos cumprir até ao último homem e à última bala se possível”.
Despediram-se, beijaram os retratos da família, que guardaram nos bolsos do uniforme. Às sete e trinta voltaram dois jactos indianos a atacar a fortaleza. “Fogo nesse, Ferreira, dá-lhe!”, ordenou o comandante ao marinheiro artilheiro.
Entretanto, um incêndio deflagrara na casa das máquinas e rapidamente se estendera à ponte e a pequena lancha, a arder, com os motores avariados pelo fogo inimigo, teve que ser abandonada. Agonizante, o Comandante beijou o retrato da mulher e do filho. Os sobreviventes tentaram arrear o bote, levando com eles os feridos.
Novo ataque dos aviões: desta vez, a rajada atingiu Oliveira e Carmo no peito e matou-o. O grumete-artilheiro Ramos foi ferido na perna esquerda e o marinheiro-telegrafista Costa no ombro e nas costas; o marinheiro-artilheiro Aníbal Jardim, viu a perna esquerda cortada pela canela e os outros três marinheiros incólumes trataram de socorrer os seus camaradas feridos, empurrando-os para uma balsa, pois o escaler de bordo, furado pelos disparos do inimigo, estava a afundar-se.
À deriva, enquanto rebentavam as munições, com estrondo, lançando colunas de fumo para o ar, afastando-se e deixando a água entrar a rodos, a Vega sumiu-se nas águas do Índico, e com ela os corpos sem vida de Oliveira e Carmo e do marinheiro artilheiro António Ferreira. Muito ferido, o marinheiro Aníbal Jardim também não sobreviveu, chegando a terra já cadáver.
Os outros cinco elementos da guarnição conseguiram salvar-se ajudando-se uns aos outros, dois seriamente feridos e três ilesos, depois de sete horas no mar, a nadar.
Segundo os indianos, o fogo da Vega, atingira três aviões, sem que fossem apurados os danos causados, neste que foi último combate da marinha de guerra portuguesa no Oriente.
Assim morreu Oliveira e Carmo, um herói, um herói entre outros que sempre souberam e saberão enaltecer e honrar o bom nome de Portugal.