Clarinho, Clarinho, para Militar Perceber (E Não Só)
Não conheço o autor (nem sei se é ele o autor), nem o seu currículum.
No entanto considero este seu artigo, o qual reproduzo com a devida vénia, merecedor da nossa atenção (e meditação).
Votos de uma boa semana de trabalho!
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"Se a Grécia Entrar em Bancarrota, Portugal não Dura Mais Que Umas Semanas.
De acordo com as notícias desta semana, o governo está empenhado na actualização do regime jurídico do casamento. O PSD está empenhado em ouvir escutas telefónicas para aferir o carácter moral do primeiro-ministro. O PCP e o BE estão empenhados em que os mesmos magistrados que não conseguem guardar o segredo de justiça possam ter acesso às contas bancárias de qualquer pessoa, e a persigam se acharem que ela tem mais dinheiro do que devia. O CDS-PP está empenhado em tornar-se imprescindível nos jogos políticos da Assembleia da República. E os deputados estão empenhados em insultarem-se uns aos outros.
Se me permitem, e se não os distraio demasiado destes afazeres, gostava de recordar aos nossos governantes uns pequenos detalhes. 548 mil portugueses estão desempregados. Cerca de 1,850 milhões de portugueses recebem pensão de velhice, 300 mil recebem pensão de invalidez, e 380 mil recebem o rendimento social de inserção. Para apoiar estes 3,078 milhões de portugueses, trabalham somente 5,020 milhões de portugueses. Por sua vez, a remuneração mensal média de um trabalhador, depois de impostos, está algures entre os 720 e os 820 euros. Na população activa, por cada pessoa com um curso superior, existem duas pessoas que têm menos do que a quarta classe.
Talvez estes detalhes da vida das pessoas não sejam demasiado importantes para quem tem o olho na Europa. Mas, em Outubro, Portugal só exportou 2856 milhões de euros em bens; importou 4502 milhões. A riqueza que produzimos num ano não chega para pagar o que devemos aos estrangeiros. De bons alunos vaidosos nas cimeiras internacionais, seria bom que os nossos líderes se preparassem para o novo papel de convidado que foge para a casa de banho quando se aproxima um credor.
Quatro países na UE estão com problemas financeiros semelhantes aos de Portugal, de acordo com as taxas de juro que têm de pagar aos credores. O Reino Unido e a Irlanda responderam com medidas dolorosas, que na Irlanda incluem cortes no salário dos funcionários públicos até 20%. A Grécia e a Itália, tal como Portugal, preferem assobiar para o lado. Os especuladores já começaram a atacar a dívida grega e fala-se do risco iminente de bancarrota do país. Se a Grécia cair, Portugal não dura mais que umas semanas.
Eu sei que, infelizmente, muitos comentadores estão há décadas a anunciar o fim da nossa economia, pelo que os governantes estão habituados a ignorar estes avisos. Mas depois de olhar para estes factos, como é que quem jurou servir Portugal pode passar o tempo a distinguir uniões de facto e casamentos, ou obcecado em saber se José Sócrates trata o amigo por “Mando” ou “Varinha”?
Ricardo Reis - Professor de Economia, Universidade de Colúmbia
JORNAL I 12.12.2009"
De acordo com as notícias desta semana, o governo está empenhado na actualização do regime jurídico do casamento. O PSD está empenhado em ouvir escutas telefónicas para aferir o carácter moral do primeiro-ministro. O PCP e o BE estão empenhados em que os mesmos magistrados que não conseguem guardar o segredo de justiça possam ter acesso às contas bancárias de qualquer pessoa, e a persigam se acharem que ela tem mais dinheiro do que devia. O CDS-PP está empenhado em tornar-se imprescindível nos jogos políticos da Assembleia da República. E os deputados estão empenhados em insultarem-se uns aos outros.
Se me permitem, e se não os distraio demasiado destes afazeres, gostava de recordar aos nossos governantes uns pequenos detalhes. 548 mil portugueses estão desempregados. Cerca de 1,850 milhões de portugueses recebem pensão de velhice, 300 mil recebem pensão de invalidez, e 380 mil recebem o rendimento social de inserção. Para apoiar estes 3,078 milhões de portugueses, trabalham somente 5,020 milhões de portugueses. Por sua vez, a remuneração mensal média de um trabalhador, depois de impostos, está algures entre os 720 e os 820 euros. Na população activa, por cada pessoa com um curso superior, existem duas pessoas que têm menos do que a quarta classe.
Talvez estes detalhes da vida das pessoas não sejam demasiado importantes para quem tem o olho na Europa. Mas, em Outubro, Portugal só exportou 2856 milhões de euros em bens; importou 4502 milhões. A riqueza que produzimos num ano não chega para pagar o que devemos aos estrangeiros. De bons alunos vaidosos nas cimeiras internacionais, seria bom que os nossos líderes se preparassem para o novo papel de convidado que foge para a casa de banho quando se aproxima um credor.
Quatro países na UE estão com problemas financeiros semelhantes aos de Portugal, de acordo com as taxas de juro que têm de pagar aos credores. O Reino Unido e a Irlanda responderam com medidas dolorosas, que na Irlanda incluem cortes no salário dos funcionários públicos até 20%. A Grécia e a Itália, tal como Portugal, preferem assobiar para o lado. Os especuladores já começaram a atacar a dívida grega e fala-se do risco iminente de bancarrota do país. Se a Grécia cair, Portugal não dura mais que umas semanas.
Eu sei que, infelizmente, muitos comentadores estão há décadas a anunciar o fim da nossa economia, pelo que os governantes estão habituados a ignorar estes avisos. Mas depois de olhar para estes factos, como é que quem jurou servir Portugal pode passar o tempo a distinguir uniões de facto e casamentos, ou obcecado em saber se José Sócrates trata o amigo por “Mando” ou “Varinha”?
Ricardo Reis - Professor de Economia, Universidade de Colúmbia
JORNAL I 12.12.2009"
2 comentários:
O dr. Medina Carreira, entre outros, anda a dizer coisas semelhantes há muito tempo, mas já está catalogado como pessimista e alarmista e portanto arrumado para o lado.
Há muita gente a começar a levar estas coisas a sério e a preocupar-se com as consequências delas, excepto os nossos governantes.
Receio bem que andemos num mundo do faz de conta e que quando quem tem o poder nas mãos acordar, ou se render à evidência, seja demasiado tarde para muitos. Não para todos, que há sempre quem ganhe com a desgraça alheia.
Este diagnóstico é coincidente com todos aqueles que os Economistas "credíveis" vêm propalando. As soluções, essas também são conhecidas e a coinicidência de opinião também se verifica no que respeita ao seu mérito e bondade. Convenhamos que não são muitas. Entre impostos, cortes na despesa, eficiência no funcionamento, privatização de alguns serviços e o recurso ao património (cada vez mais reduzido), dir-se-á que os "sacos" não serão mais doque cinco. É o que dizem os entendidos.Ainda na semana passada tive oportunidade de assistir a um seminário no IDN e aí ouvir algusn destes entendidos discorrendo sobre a Economia nacional e o futuro do País. Os conferencistas, sobejamente conhecidos -Luís Campos e Cunha, Daniel Bessa e João Salgueiro - como outros, foram unânimes e mais do que claros no diagnóstico e no prognóstico (antes do fim do jogo ...!; pena foi que a audiência, essa, como quase sempre acontece, já seja um público-alvo específico, que, por natureza, maioritariamente, já está mais do que convencido. Os que deveriam ouvir, e todos nós sabemos quem são, ou não aparecem, por muito atarefados, ou não estão interessados, porque os seus interesses ou divergem dos "convencidos" ou estão em linha, quase e sempre, também, com outros diametralmente opostos. De um lado os bons do outro lados os maus. É típico da sociedade portuguesa e das suas "racionalizações sociais divergentes". No entanto, grande parte do que foi lá dito veio a público no último Expresso , onde, o próprio Daniel Bessa publica algumas das ideias que tinha avançado. O Nicolau Santos volta também ao assunto e sob a epígrafe "Amarrados à tragédia grega" volta ao tema e na mesma onda. Onda esta que não difere na matriz dessa outra, já conhecida, do Medina Carreira, que, ao que parece, irrita muito boa gente. Contou aliás um dos conferencistas que a sua mulher já lhe referia que ele próprio já estava como o "Medina", replicando ele que independentemente do estilo muito característico deste último analista, no que concerne ao conteúdo da sua mensagem, infelizmente, não há como fugir dela ...nem os "optimistas". Vejamos o que o Orçamento nos reserva para 2010, se "mais do mesmo" se a assunção da gravidade da crise. Estou convencido que a primeira das hipóteses sairá vencedora. Será que não aprendemos nem com os nossos maus exemplos do passado, nem com os exemplos recentes daqueles que, estando na UE, se encontram, como nós, em maus lençóis? On vera!
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