1923
Não concordo nem discordo do mais recente acordo ortográfico pois não tenho capacidade técnica sobre a matéria para poder emitir uma opinião abalizada. Julgo, no entanto, que era inevitável. Poderia ser menos polémico? Poderia ser mais claro e melhor explicado? Acho que sim. Eu, pelo que me toca, tenciono segui-lo e, por vezes, não compreendo muito bem as razões dos seus opositores que se limitam a críticas sobre a quebra de tradição/hábito que todos ganhamos quando aprendemos a ler e escrever na nossa meninice (já lá vão uns aninhos).
Para ilustrar esta minha posição vou socorrer-me de um livrinho de 1923, uma oitava edição do "A CIDADE E AS SERRAS" do Eça. Primeiro apenas um pormenor, a págs 17/18.
" ... Mas o telephone! o phonographo!
- Ahi tens tu, o phonographo! ... Só o phonographo, Zé Fernandes, me faz verdadeiramente sentir a minha superioridade de sêr pensante e me separa do bicho. Acredita, não ha senão a Cidade, Zé Fernandes, não ha senão a Cidade!".
No final do livro pode ler-se uma advertência que não resisto a colocar aqui:
"ADVERTENCIA
Desde a pagina 241, até o final, as provas d'este livro não foram revistas pelo auctor, arrebatado pela morte antes de haver dado a esta parte da sua escripta aquella ultima demão, em que habitualmente elle punha a diligencia mais perseverante e mais admiravelmente lucida.
Aquelle dos seus amigos e companheiro de lettras a quem foi confiado o trabalho delicado e piedoso de tocar no manuscripto posthumo de Eça de Queiroz, ao concluir o desempenho de tal missão, beija com o mais enternecido e saudoso respeito a mão, para todo o sempre immobilizada, que traçou estas paginas encantadoras: e faz votos por que a revisão de que se incumbiu não deslustre muito grosseiramente a immortal aureola com que ficará resplandecendo na litteratura portugueza este livro, em que o espirito do grande escriptor parece exhalar-se da vida n'um terno suspiro de doçura, de paz, e de puro amor á terra da sua patria."
Quando o JBR diz que escreve de acordo com a antiga ortografia, refere-se a qual? À do livro de 1923? Ou àquela que ele aprendeu em miúdo? Acho que os leitores de 1923, confrontados com a "nossa" ortografia, tiveram as mesmas objecções que hoje muitos de nós expressamos ... mas, daqui a 30 anos, o pessoal mais novo olhará para a actual ortografia com a mesma estranheza com que nós vemos a de 1923.
3 comentários:
Quando afirmo escrever de acordo com a antiga ortografia, refiro-me à que aprendi. Como não conheço a nova (e sou muito preguiçoso para passar a conhecê-la) nada mais posso fazer do que escrever conforme aprendi. Noto aqui que não digo bem nem mal do acordo ortográfico, pois não o conheço.
Finalmente acho graça a afirmar, quando tenho oportunidade e mesmo a despropósto que:
"Jorge Beirão Reis escreve de acordo com a antiga ortografia"
As anteriores reformas ortográficas trataram da normalização da língua. Esta é provocada por factores externos que levam a adoptar grafia de outos países, alterando a nossa forma de ler e decifrar a escrita, e obliterando a etimologia das palavras.
Quando leio receção não sei o que significa porque pronuncio mal.As consoantes mudas tinham a função de fazer abrir as vogais.E já não é pouco...
Há duas razões principais para eu estar contra este pseudo-acordo. A primeira é a forma enviesada (para não lhe chamar desonesta) como foi subtraído à discussão pública; a segunda é a completa ausência de justificação da sua necessidade. Continuarei, enquanto puder, a escrever de costas para o Novo Acordo Ortográfico, que quer fazer de nós "espetadores". Estou velho para virar frangos...
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