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Na manhã do dia 3 de Setembro de 1962, um grupo de seis dezenas de jovens que tinham sido admitidos na Escola Naval como cadetes do Curso Oliveira e Carmo, embarcou na Doca da Marinha numa vedeta do SPT e atravessou o Tejo em direcção ao Alfeite. Os elementos do grupo percorreram a rampa de acesso à Escola Naval, subiram a respectiva escadaria e foram recebidos no átrio do edifício escolar por um grupo de cadetes do Curso Nuno Tristão, que tinha a missão de os enquadrar nos primeiros contactos com a vida escolar-naval.
Depois juntaram-se alguns cadetes daquele curso, entrados no ano anterior e que, portanto, já se encontravam na Escola Naval, os quais por razões escolares tinham transitado para o curso que iniciava agora o seu percurso, reforçando-o em mais 26 unidades.
Passaram 60 anos sobre esse dia verdadeiramente inesquecível nas nossas vidas de Homens e de Marinheiros. Cada um de nós seguiu o seu percurso, uns na Marinha, outros fora dela. Frequentámos escolas em busca de saberes e de especializações. Navegámos por mares agitados e por rios sinuosos. Alguns, vestiram um fato camuflado e andaram por matas e bolanhas de arma na mão. Outros, foram reconhecidos pelo seu mérito e alcançaram o Almirantado. E todos conhecemos um espaço de portugalidade que não resistiu aos “ventos da História” assistindo à reconquista da liberdade e da democracia.
A cultura naval deixou marcas profundas em cada um de nós, nos nossos hábitos sociais, nas nossas memórias e no nosso imaginário mais profundo.
A Marinha faz parte da nossa identidade. Nós não fomos da Marinha, nós pertencemos orgulhosamente à Marinha!
Como escreveu Pessoa na Ode Marítima:
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias [...].
Hoje, nas instalações do Clube Militar Naval, lembrámos os que já nos deixaram e recordámos o dia em que há 60 anos nos encontrámos para iniciar o nosso percurso marinheiro. Foi um encontro simbólico e um abraço - que a covid-19 vinha adiando – mas foi, sobretudo, uma afirmação de fraternidade entre companheiros de viagem.