Esta figura do PS e do governo, que se torna cada vez mais caricatural para não dizer outra coisa, afirmou que não é com demagogia que se vai resolver o problema dos jovens. Eu acrescento, dos menos e dos mais jovens já que os mortos os têm todos resolvidos de vez, porque mesmo que inventem para eles impostos e taxas serão os seus herdeiros a arcar com as responsabilidades.
Claro que a demagogia não resolve os problemas, mas o que é que os partidos e os políticos nos deram até agora e nos podem oferecer no futuro senão demagogia e mentira?
Estive ontem na manifestação do "país à rasca" em Lisboa. Não gosto muito de participar em manifestações e por isso só participei em algumas antes do 25 de Abril por dever cívico. Depois, participei em algumas datas comemorativas. Por isso, durante o desfile não me entusiasmei com o ambiente e fui tentando observar o que via e interpretar o que estava em causa.
A primeira constatação foi a de que as pessoas gostam da política, querem ter opiniões políticas e sobre as políticas, querem ouvir e ser ouvidas, querem participar.
A segunda constatação foi a de que o asco pelos partidos e pelos políticos era um sentimento transversal em todas as pessoas, em todos os cartazes, palavras ordem ou conversas entre as pessoas.
È claro que, se quisermos ser racionais, não somos capazes actualmente de perspectivar alternativas para a democracia sem partidos, no sentido de organizações capazes de exprimir as opiniões, sentimentos e necessidades das pessoas relativamente à forma como a polis deve ser dirigida. Mas temos de admitir que é possível encontrar outras formas de atingir os mesmos objectivos, quer mudando as características que, no presente, definem a estrutura, organização e modos de actuar dos partidos, quer encontrando outras formas de organização das vontades e aspirações dos povos.
Já no que se refere aos políticos, o sentimento geral é de nojo, raiva, desprezo e complementado pela ideia de que podemos bem prescindir deles enquanto profissão e corporação.
Fala-se muito nos funcionários públicos, nos professores, nos militares como corporações só interessadas no seu umbigo e vivendo às custas do orçamento, quando a corporação que mais suga nas veias do país é precisamente as dos políticos profissionais organizados em partidos.
Para fazer política não são precisos políticos, mas cidadãos que se disponibilizem a trabalhar para a polis, sem se tornarem políticos profissionais. Para isso o trabalho político terá de ser remunerado, mas sempre temporário, por períodos limitados e do qual, embora resultam satisfação e benefícios pessoais estes não ultrapassem os limites determinados pela lei e pela ética.
À margem. Encontrei alguns camaradas o que me confortou e me confirmou que os valores que nos levaram, em 1974, a romper com o regime político então vigente, não adormeceram à sombra das carreiras e vidas instaladas.