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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Portugal

Desemprego ultrapassa 13% e atinge novo máximo histórico:


Os dados do Gabinete de Estatística Europeu mostram que a taxa de desemprego em Portugal subiu 0,2 pontos percentuais em Novembro:

domingo, 6 de dezembro de 2009

Crises: A Internacional. E, a Nossa

Tanto quanto já nos foi dado perceber, pelo que tem sido dito e escrito nos órgãos de comunicação social, a saúde das nossas contas públicas e da nossa economia não é brilhante. O que, sem quaisquer laivos de catastrofismos, nos deve deixar preocupados.

Segundo a opinião dos mais diversos comentadores financeiros e económicos, mesmo que a crise internacional estivesse já em dissipação, Portugal não inverteria a actual situação. Isto, porque a nossa debilidade social e económica, não nos permite margem de manobra. Acresce, que não podemos utilizar os instrumentos de politicas monetária e financeira, por imperativo da nossa adesão ao euro.

Não se saberá exactamente o valor real do défice das nossas contas públicas, já que a prática da desorçamentação de grande volume de encargos do Estado, utilizando "truques" orgânicos e contabilísticos, tem sido a prática corrente, com particular incidência nos dois últimos anos. Esta situação configura que no futuro a nossa realidade económica e financeira será mais bem complicada que as previsões actuais. Isto, porque o Estado acabará, algures, por ter que assumir a responsabilidade do endividamento das entidades empresariais que vem utilizando para os malabarismos da contenção dos défices orçamentais recorrentes. E, aí é que, verdadeiramente, "a porca vai torcer o rabo".

Já é tempo de se falar verdade e assumir frontalmente as nossas dificuldades e necessidades. E, aproveitando o actual clima favorável a uma certa compreensão face à crise internacional, negociar com as instituições europeias um plano e programas de médio prazo (5 a 8 anos).

Se, perdermos esta oportunidade em que os "grandes" da UE, também, estão com problemas financeiros e económicos, a nossa futura situação será bastante mais complicada e deveras preocupante. Não estamos a falar de falência. Mas, sim de um período prolongado de restrições gravosas para a qualidade de vida dos portugueses. Senão mesmo, uma significativa baixa do nível de vida e do respectivo IDH (índice de desenvolvimento humano).

Sugiro a leitura do artigo:

" A la espera del próximo Dubai"

... cita a Ucrania y Portugal como los posibles "volcanes" a punto de estallar."



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Levando as crises financeiras pela trela

Com a devida vénia transcrevo o texto:


“in Jornal de Angola on line - Ano 9 | Edição Online nº 2755 | Sábado, 28 de Fevereiro de 2009”

As mabubas de Kalandula de Artur Queiroz

A mandioca do Kimbele e de Kalandula nunca foi amarga, como aquela do Luinga que tínhamos de pôr de molho nas águas barrentas do Kanuango. Nas aldeias, os camponeses de Malanje vendiam salalas do melhor bombô do mundo. E com sorte ainda avistávamos uma palanca bem negra, elegante na sua correria louca pelo capim novo de Novembro.
Em Kalandula, afamada de Duque de Bragança desde o século XIX, ficávamos horas a contemplar as mabubas de Lia’nzundo, nome poético que alguém baniu dos dicionários e das memórias. Há por lá um rochedo que tem marcado o pé da rainha Jinga. Tal qual nas mabubas do Kanakajungo, a caminho do Bindo. Mesmo em frente às quedas de água havia um barbeiro com sua casinha de adobe. O artista navegava entre a bebedeira e a loucura sifilítica enquanto cortava pêlo duro e pêlo que voa. Tinha duas belas filhas, sempre acenando amores aos viajantes.
Foi nos areais entre Kangola e Kimbele que vi pela primeira vez um homem chorar a sua amada, mordida mortalmente pela surukuku. E ele cantava uma canção dolente sem acompanhamento de marimbas nem tambores.
Por ti meu amor, meu poema de riso de cristal, dava a volta ao mundo pelo lado das mabubas de Lia’nzundo, pelo mar das tormentas, pelo cabo da bela esperança, pelo madrigal de uma camponesa de riso aberto e faces de loengos maduros.
Por ti meu amor, eu era pássaro com asas tão finas como a espuma que se desprende das águas de Lia’nzundo e envolve o teu corpo inanimado como as canções da infância.
Por ti meu amor, dava voz a este semba, libertava o grito sufocado e depositava no teu colo o melhor vinho das palmeiras do mais velho Moka.
Por ti meu amor, dava o corpo ao veneno da surukuku e mergulhava para sempre nas margens alagadas do Lukala, ali pertinho do Tango, onde o jacaré dança em cima das águas. Como dizia o bardo cabo-verdiano Silva Tavares, num poema com sabor a mar azul, se Deus é grande, o amor é ainda maior.
A canção não restituiu a vida à bela adormecida pela picada da cobra e os cânticos extinguiram-se nas montanhas distantes da Lunda. Ainda se fosse um beijo de mãe... As feridas em carne viva, a dor mais violenta passa logo quando uma mãe beija a região dorida. E não há morte que resista a um canto de ninar de uma mater dolorosa. Mas se até a Mãe está moribunda, que fazer?
Já ninguém compra os sorrisos prometedores das filhas do barbeiro de Kanakajungo nem sequer salalas de bombô. Esse tempo está tão distante como a agonia dos escravos que continuavam a encher os porões dos barcos negreiros muito depois da abolição da escravatura. Mas a escravatura foi hoje e amanhã é uma faca longa cravada na nossa consciência. Nada que tenha o sal da mágoa passou ou passará a ser doce. Nenhuma dor funda se perde na distância.
As águas revoltadas do Lucala continuam a despenhar-se no abismo líquido de Kalandula, naquele fantástico rio de espuma. Os escravos continuam a arrastar as suas correntes pelo mundo, levando as crises financeiras pela trela, pagando todas as facturas, movendo todos os engenhos do açúcar do lucro fácil. E nós, os que crescemos nesse pântano, já nem sequer temos um beijo de mãe para nos aliviar a dor e curar a ferida em sangue. À média luz vou pensando que já é tempo de levar para a frente aquela combina do socialismo que nos iluminou o caminho no tempo do Kaprandanda. Mesmo que não seja a pousada da sétima felicidade, pelo menos torna mais fácil detectar os kifumbes que nos colocam de mãos no ar e devastam os bolsos.