OFENSA
Recebi hoje o documento que se segue, vindo do Jorge Beirão Reis e João Bandeira Ennes. É-me difícil classificar o acontecimento relatado, o qual envolve o nosso OCeano Leopoldo Bastos Jorge. O JBR diz que é inacreditável, o JBE chama-lhe insólito ... eu diria que é uma vergonha de todo o tamanho. Custa-me acreditar que o nosso país seja representado no Brasil (cônsul em Santos) por uma criatura deste quilate e espero que seja dado o máximo de publicidade ao acontecido, na esperança de que chegue aos ouvidos de quem possa tomar as medidas adequadas. Um grande abraço de solidariedade para o OCeano ofendido.
1ª MENSAGEM – O PEDIDO
Exmo. Sr. Dr. Fernando Manuel de Gouveia Araújo
DD. Cônsul de Portugal em Santos
Apresento a V.Exa. os meus melhores cumprimentos e tomo a liberdade de formular a presente mensagem para solicitar a inclusão do meu nome, e o de minha mulher, na lista de convidados para a recepção a realizar-se na noite de amanhã, 09AGO07, a bordo do N.E. "Sagres", comandado pelo CMG José Luís do Vale Matos e, presentemente, atracado ao cais do porto de Santos. Tal solicitação, aparentemente inusitada, prende-se ao facto de que eu e minha mulher nos conhecemos a bordo daquele navio há 38 anos atrás, por ocasião de uma recepção oferecida pelo comando do navio no dia 17 de Julho de 1969. Àquela época, eu integrava a guarnição de oficiais, no desempenho das funções de chefe do serviço de electrotecnia e de instrutor de arte naval moderna, tendo permanecido embarcado no citado navio até meados de 1971. Entretanto, por haver contraído matrimónio com a jovem que havia conhecido naquela ocasião, pedi a passagem à reserva da Armada e fixei residência no Brasil em 1975. Em reconhecimento da minha conduta, o Governo Português nomeou-me Cônsul Honorário em Paranaguá, cargo que exerço desde Junho de 1992 até a presente data. Em 1986, eu e minha mulher retornámos ao N.E. "Sagres", desta feita sob o comando do Capitão-de-fragata Castanho Paes, do qual fui contemporâneo na Escola Naval, para rememorarmos o início de nossa união. Passaram-se 21 anos e, pelo retrospecto apresentado, é indisfarçável a vontade de revermos o navio em circunstâncias muito semelhantes às de 38 anos atrás. Os motivos invocados serão certamente suficientes para sensibilizar V.Exa. a atender o meu pedido. Afinal, sou Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, fui Oficial do N.E. "Sagres" e sou Cônsul Honorário de Portugal.
Por fim, mas não menos importante, gostaria de enfatizar a V.Exa. que o pedido que aqui formulo não tem nenhuma outra motivação que não seja a de continuar a cultuar o que, por razões que se sobrepõem à fortuitidade, se constituiu no ícone de nossa Família.
Por razões de horário, não será provável que tome conhecimento da decisão de V.Exa., já que tenciono sair de Paranaguá para Santos cerca das 09 horas. Por, esse motivo, solicito respeitosamente que a resposta seja passada a meu filho; Dr. Gustavo Aulicino Bastos Jorge, residente em Santos, que atenderá pelo telefone móvel 8133-8914, e nos informará a tempo de nos prepararmos para o evento.
Por razões de hierarquia, estou dando conhecimento desta mensagem à Exma. Sra. Cônsul de Portugal em Curitiba, Dra. Patrícia Gaspar, que nos lê em cópia.
Limitado ao exposto e antecipadamente grato pela atenção dispensada ao conteúdo da presente, valho-me da oportunidade para reiterar os meus respeitosos e cordiais cumprimentos.
Por fim, mas não menos importante, gostaria de enfatizar a V.Exa. que o pedido que aqui formulo não tem nenhuma outra motivação que não seja a de continuar a cultuar o que, por razões que se sobrepõem à fortuitidade, se constituiu no ícone de nossa Família.
Por razões de horário, não será provável que tome conhecimento da decisão de V.Exa., já que tenciono sair de Paranaguá para Santos cerca das 09 horas. Por, esse motivo, solicito respeitosamente que a resposta seja passada a meu filho; Dr. Gustavo Aulicino Bastos Jorge, residente em Santos, que atenderá pelo telefone móvel 8133-8914, e nos informará a tempo de nos prepararmos para o evento.
Por razões de hierarquia, estou dando conhecimento desta mensagem à Exma. Sra. Cônsul de Portugal em Curitiba, Dra. Patrícia Gaspar, que nos lê em cópia.
Limitado ao exposto e antecipadamente grato pela atenção dispensada ao conteúdo da presente, valho-me da oportunidade para reiterar os meus respeitosos e cordiais cumprimentos.
Atenciosamente
Leopoldo Câmara de Oliveira Bastos Jorge
Cônsul Honorário de Portugal em Paranaguá
Dados de identificação
Leopoldo Câmara de Oliveira Bastos Jorge RN E W159849-7
Maria Cecília Aulicino Bastos Jorge RG 3.034.980-6
2ª MENSAGEM - A RESPOSTA
Exmo Senhor Leopoldo Bastos Jorge,
Acuso a recepção do seu e-mail de ontem, dia 09.08.2007, que li atónito e com o respeito que me merecem todas aquelas pessoas que, em alguns países mais que outros, pretendem ser incluídas em listas de eventos com os quais nada têm a ver invocando argumentos muitas vezes inconsistentes e que, sem querer, prejudicam o trabalho de que está a trabalhar, com uma obsessão "convidativa" muitas vezes pouco saudável.
Minha colega Dra. Carla Grijó, Cônsul em Curitiba, com um excelente profissionalismo mas ignorando estar eu em reunião com o Perfeito de Santos, seguidamente com o Presidente da Câmara Municipal da Cidade, seguida de cerimónias militares presididas pelo Comandante da Polícia Militar de Santos, etc, telefonava-me insistentemente referindo um assunto de Vexa, que, a princípio, pensei ser algo grave.
Felizmente não era. No fundo, não era nada. .
Senhor Leopoldo Bastos Jorge,
Talvez por nunca me ter passado pela cabeça pedir a minha inclusão num evento social a que sou alheio e para o qual não fui convidado, sempre me impressionaram comportamentos desse tipo.
Conheci minha mulher em Londres quando, por coincidência, éramos dois turistas visitando o Palácio de Buckingham. Por motivos profissionais, tive ocasião de cumprimentar e de estar com membros da Família Real Inglesa. Pergunto a Vexa: Acha que isso me dá o direito de enviar e-mails ao Embaixador da Grã-bretanha em Brasília ou ao Cônsul -Geral em São Paulo para solicitar a minha inclusão em listas de convidados para casamentos da Casa Real Inglesa, banquetes nos Palácios Reais, ou visitas ao Brasil da Rainha de Inglaterra? E que dizer dos cinco últimos Presidentes da República Federativa do Brasil que tive a honra de conhecer e em cujo país sou Cônsul de Carreira ? Porque não estou incluído nas listas de convidados do Palácio da Alvorada uma vez que ali tive o prazer de jantar duas vezes?
Espero sinceramente que tenha conseguido entrar na recepção ontem oferecida a bordo da Sagres.
Com os melhores cumprimentos,
Fernando Araújo, Cônsul em Santos
3ª MENSAGEM – A RÉPLICA
Excelentíssimo Senhor Fernando Araújo
Cônsul em Santos
Acuso o recebimento da sua mensagem de 10 de Agosto, que só pude ler ao final do dia 14 por ter ficado ausente de minha residência desde o dia 09, pelo motivo maior que já é do conhecimento do Senhor Cônsul. Escusado será dizer, mas digo-o para que não paire nenhuma interpretação dúbia com relação ao que aqui, a seguir, vou dizer, que, vindo de pessoa tão ilustre e merecedora de todo o meu respeito, o conteúdo de sua mensagem mereceu a minha mais atenta leitura e reflexão que, no entanto, não levaram mais do que algumas horas de insónia para coordenar o pensamento sobre os reais motivos de uma resposta tão eivada de melindres a um pedido obsequioso – leia-se solicitação – de inclusão de um casal em uma lista de convidados que, mais tarde, vim a saber conter cerca de 120 pessoas. Não obstante haver, de forma explícita, assegurado ao Senhor Cônsul que nenhum outro propósito me guindava no pedido inusitado – até eu achei que era – que não fosse o de reviver momento tão importante de minha vida, incontestável divisor de águas, fui, injustamente, qualificado de insano e irresponsável convidado obsessivo, cujo doseamento das ditas "invirtudes" se agravou por residir num país aonde tal prática é comum, mas em cujo território V.Exa. garante o seu sustento e é, pelo seu listar de reuniões, homenageado e considerado ao extremo.
O conteúdo da mensagem de V.Exa. – e não "Vexa", usado á guisa de tratamento depreciativo – não me deixa alternativa senão rebate-lo, ponto a ponto. Diz o Senhor Cônsul que conheceu sua mulher numa visita ao Palácio de Buckingham, como turista. Há-de V.Exa. convir que qualquer pessoa, com um punhado de libras na mão, poderia estar nas mesmas circunstâncias e que o Senhor poderá reviver esse momento em qualquer outra oportunidade, bastando-lhe, para tal, estar em Londres e ter esse punhado de libras na mão. Pretende V.Exa. querer comparar situações tão díspares que o resultado, por haver partido de premissas erradas, não podia deixar de ser preconceituoso, inconsistente e impróprio. V.Exa. não é cidadão inglês, nunca terá servido no Palácio de Buckingham e tão-pouco foi membro da Família Real Inglesa. Eu sou cidadão português, o Navio Escola "Sagres" é território português – como ensina o jurista Eduardo Henrique Serra Brandão no seu tratado de Direito Internacional Marítimo – servi por dois anos a bordo do citado navio como Oficial da classe de Marinha, Chefe do Serviço de Electrotecnia e Instrutor de Arte Naval Moderna,
continuo a ser Oficial da Armada e sou Representante do Governo Português desde Junho de 1992, conforme Diploma assinado por S.Exa. o ex-Presidente da República, Dr. Mário Soares. Diz V.Exa. que teve "ocasião de cumprimentar e estar com membros da Família Real Inglesa" enquanto eu posso dizer-lhe que o bordo da "Sagres» – que V.Exa. compara ao Buckingham Palace – já fui recebido, e continuá-lo-ei a ser, com honras militares prestadas por Homens de elevada projecção nacional, de notável saber profissional, ilibada conduta militar e cívica, generosos e simples ao extremo e que, por todas as virtudes e qualidades enunciadas foram guindados ao comando do navio que é o embaixador das tradições marítimas de Portugal. Diz V.Exa. que " . . . no fundo, não era nada." Quem é o Senhor para fazer afirmativas que não lhe competem? Se a frase desdenhosa tivesse – mas não teria sido, com certeza – dita pelo Capitão-de-mar-e-guerra José Luís do Vale Matos, Comandante da Sagres, eu teria, como oficial subordinado, que acatar a sua decisão e se achasse que a conduta do meu superior tinha sido ofensiva apresentaria a competente representação aos seus superiores hierárquicos. É assim que se age, sejam quais forem as circunstâncias, as pessoas, os lugares e os motivos.
Diz V.Exa. que nunca lhe passou pela cabeça pedir a sua inclusão num evento social a que é alheio. Lembre-se V. Exa. que, por circunstâncias geográficas, se a "Sagres" tivesse aportado a Paranaguá eu não teria precisão de pedir a minha inclusão na lista de convidados.
Impressionam-no, negativamente, pedidos como o que respeitosamente lhe dirigi; em contrapartida, orgulho-me de sentar junto à tela de um computador com gente humilde que procura o meu apoio para conseguir descobrir as origens dos seus antepassados e conseguirem, através de pedido de nacionalidade, ser acolhidos à sombra da bandeira das 7 quinas. Orgulho-me de ser considerado um bom anfitrião, bem à moda portuguesa, recebendo irmão de governador com a mesma cordialidade com que recebo a mais humilde das secretárias; orgulho-me, e muito, da mulher que tenho, uma brasileira de imenso coração português que nas comemorações do último 10 de Junho realizou um concerto de piano, executando peças do grande compositor português Vianna da Motta, sem que para isso tivesse, sequer, cogitado receber qualquer cachê. Orgulho-me, sim, Senhor Cônsul, de prestar serviços ao meu País sem que para tal seja sequer reembolsado das mais elementares despesas.
Poderia prosseguir num, quiçá infindável, arrazoado de motivos pelos quais me orgulho de ser, talvez, a pessoa que, entre os 122 convidados, mais motivos reuniria para estar presente na recepção a bordo da "Sagres". Ao invés, prefiro resumi-los dizendo-lhe que enquanto V.Exa. vive de ser Cônsul eu vivo para ser Cônsul.
Por fim, e ainda merecendo todo o respeito que devoto a todas as pessoas, quero agradecer a V.Exa. os votos formulados para que tivesse "conseguido entrar na recepção". Não, Senhor Cônsul. Não é prática minha ir aonde não sou convidado e desejado. Tenho a certeza de que, por motivos de foro íntimo, não conseguiria suportar ver barrada a minha entrada, e muito menos a da minha mulher, na casa aonde vivi por dois anos e cujo piso é o chão do País que tanto amo e respeito, a ponto de representá-lo honorariamente.
Respeitosamente
Leopoldo Câmara de Oliveira Bastos Jorge
Cidadão Português
P.S. Em Agosto de 1998 visitava pela "enésima" vez o Mosteiro dos Jerónimos. Ao consultar o livro de comentários deparei-me com um, escrito em inglês, cuja autoria não me recordo mais e que, traduzido livremente, dizia o seguinte: "Quem cuida assim dos seus monumentos não é merecedor da sua história".
6 comentários:
Algum me pode esclarecer se "distinto" diplomata é português ou brasileiro?
Independentemente disso julgo que se devia dar conhecimento ao CEMA e ao MNE.
Não posso deixar de salientar o facto de o Excelentíssimo Senhor Consul de Santos faz parte da tal raça pestilenta sendo, por tal razão, admissível que se manifeste da forma como acabamos de tomar conhecimento. Estranho, no entanto que os seus superiores não tenham tido o cuidado de o guardar ciosamente no Palácio das Necessidades, onde não pudesse publicitar tal raça.
Espero que o Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros tenha a oportunidade de o demitir, com justíssima causa, do cargo que ocupa, antes que a Sagres volta ao Brasil.
Realmente, a arrogância e a má-criação do peralvilho que deu aquela resposta são de antologia. Desgraçadamente, quem já teve contactos com outros cônsules (peço desculpa aos probos romanos que ostentavam esse título e com a comparação se sentiriam justamente ofendidos) sabe que a peralvilhice e a arrogância são moeda corrente no corpo consular (alguns estão nele bem mais para consolar o corpo do que para fazerem parte do corpo consular). Se alguém puder fazer chegar ao Bastos Jorge a minha solidariedade, agradeço. E, por acréscimo, se tal for possível, mandem-lhe esta máxima latina, que o consolará embora seja já cônsul: aquila non capit muscas.
Esta onda é quase tão grave como o saneamento dos reformados do Hospital da Marinha(quase ex-nosso).
Mas eu sou solidário e já pus a funcionar várias cadeias do meu conhecimento.
Se o Consul não fôr socialista haverá hipotese de ser castigado ou mesmo exonerado.
Se fôr PS ou Bloquista não há.
O Bastos JOrge terá de continuar ao fundo da escada de portaló.
A grande maioria de nós, ao longo da sua carreira,teve oportunidade de privar com a figura do consul a qual tanto se podia tratar de alguém de fino trato, o que acontecia na maioria dos casos, como de um qualquer energúmeno. Estou - me a lembrar em particular de dois casos opostos que tive oportunidade de observar em que, num porto, o consul apareceu a bordo vestido de fraque e de chapéu alto para retribuir cumprimentos e, noutro porto, o consul para além de se apresentar num estado de etilização quase permanente afirmava à boca cheia que se formara na universidade de Cacilhas...só não dizia em que é que se formara!
Tudo isto só para dizer que, tal como a minha avó me ensinou, existe uma categoria social designada por "doutor da mula russa" ou seja, as "criaturas" que, de doutor apenas têm o título...estou em crer que, pela situação descrita, o tal consul de Portugal em Santos pertence sem dúvida à dita categoria.
Histórias de consules são mais que muitas; este animal excede tudo o que se possa imaginar. Isto tem que ir ao conhecimento do CEMA e do MNE.
Comentar esta onda