REGATA LISBOA - BERMUDAS
( O lugre ARGUS, irmão mais novo do Creoula. Em 1950 embarcou Villiers na faina do bacalhau)
O cronista Cad. Simões Teles relata assim o dia 28 de junho de 1964:
"Domingo. Novamente o navio anda menos do que em qualquer outro dia da semana precedente. O céu está limpo e faz muito calor. Na nossa coberta é quase impossível estar. A "praia" do castelo é pequena para a concorrência.
Das 06,30 às 09,00 houve lavagem de roupa. Navegamos em regime de água fechada. Hoje todos têm direito a mais dois baldes de água, para desencardirem pouco as suas fraldas. Vê-se, com grande espanto, esfregarem-se pijamas, camisas e calças brancas com escovas de lavar o convés!!! O Cabo Cerqueira controla o enchimento dos baldes, mas não pode impedir que alguns aproveitem a facilidade para um banho um pouco melhor. O navio respira a limpeza esta manhã.
Connosco viaja um Australiano, marinheiro dos sete costados. Trata-se de Alan Villiers, actualmente repórter do National Geografic. É alto e forte e, se olharmos ao seu passado ficamos a saber que 23 dias de mar, para ele é uma brincadeira. Muito culto, muito viajado é um inglês simpático. Comandou já vários veleiros e fez uma reportagem a bordo dum lugre-bacalhoeiro da nossa frota. Levanta-se à alvorada, com seu uniforme caqui, binóculos ao pescoço, passa o dia inteiro no tombadilho, ou passeia pelo navio tirando fotografias. Tem um grande apreço pelos marinheiros portuguêses e isso torna-o bem-vindo a bordo."
O Cabo Cerqueira era o "Cabo da aguada". Estava limitado fisicamente, devido aos ferimentos sofridos quando do desastre do avião do "vôo da amizade" que levava parte da guarnição da então futura Sagres, e que se despenhou ao aproximar-se do aeroporto do Recife. O Comandante Horta também ia, tendo ficado ileso, e foi ele que "comandou" os socorros aos passageiros. Viam-se cicatrizes nas pernas do Cabo Cerqueira resultantes das queimaduras que sofreu.
O Capt. Alan Villiers, capitão da marinha mercante inglesa era um "Cap Hornier"; tinha dobrado o Cabo Horn várias vezes, era portanto o único a bordo que podia "cuspir para barlavento" segundo a tradição naval. A reportagem sobre o bacalhau foi feita a bordo do bacalhoeiro Argus e deu origem ao famoso livro "A campanha do Argus". Um dos motivos de apreço pelos portuguêses era que estes embarcavam sozinhos no dori. Só quando levavam um pescador "verde" é que este embarcava com outro pescador mais experiente. Os pescadores dos outros países embarcavam aos pares. O capitão do Argus (Cap. Paião) era um oficial que gostava de navegar à vela com o máximo pano possível; era muito admirado pelo Capt. Villiers.
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