quinta-feira, 28 de junho de 2007

C.R. Boxer (2)

«Uma das razões para a dificuldade em obter um número adequado de marinheiros para o serviço das frotas dos reis de Espanha e Portugal, era, quase de certeza, o desprezo e a antipatia com que foi considerada durante muito temopo nestes dois países a profissão de marinheiro. (...) No entanto, tanto portugueses como espanhóis consideravam o soldado muito acima do marinheiro na hierarquia social. (...) O humanista espanhol Luís Vives definiu os marinheiros como sendo Fex Maris (a escória dos mares); e o cronista português Diogo de Couto _ que não era nenhum marinheiro de água doce como Vives mas sim um viajante experimentado e inteligente _ afirmou que a grande maioria dos marinheiros eram "crueis e desumanos por natureza". (...) O Vice-rei da Índia, marquês de Távora, ao escrever para a Secretaria de Estado em Lisboa acerca da sua viagem a Goa em 1750, afirmava que "a insensibilidade e a falta de caridade por parte dos marinheiros são indescritíveis. Posso assegurar-lhes que, regra geral, este tipo de gente sente mais a morte de um dos seus frangos do que a perda de cinco seis dos seus companheiros de viagem".

Nada seria mais fácil do que encontrar centenas de alusões depreciativas idênticas feitas por outros homens instruídos que deviam ter melhor conhecimento da situação, mas que partilhavam o mesmo desprezo desdenhoso pelos marinheiros que era tão usual na Peninsula Ibérica. É desnecessário acrescentar que esta aversão espalhada e fortemente enraizada contra a sua profissão não podia ter aumentado a auto estima dos marinheiros ibéricos e que a vida dura que levavam contribuia indubitavelmente para os brutalizar. Considerando a aspereza com que eram geralmente tratados por aqueles que se consideravam seus superiores sociais, quase não chega a surpreender que os marinheiros portugueses se comportassem nos naufrágios ou em crises idênticas com uma arrogância indisciplinada em relação aos individuos que os desprezavam. (...) A coroa estava informada de fonte segura em 1524 de que uma das razões por que era difícil recrutar marinheiros exprimentados para a carreira era a aspereza com que eram tratados pelos fidalgos na Índia. Um século mais tarde, o almirante João Pereira Corte -Real declarava que este ramo do serviço naval era tão impopular que alguns marinheiros tinham de ser recrutados à força e mantidos a bordo acorrentados até ao momento em que o navio saía de Lisboa».

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